Estão a ver ali aqueles 2 anos, 11 meses, 1 semana e 5 dias?
Pois bem, neste momento nem sei se acredito no que quer que seja. Só sei que tenho esta sensação que me aperta o coração e asfixia os meus pulmões de tal maneira que o meu corpo treme e a alma vagueia por aí, à espera dum sítio chamado "realidade" onde possa cair. Esta estranha sensação de que está tudo prestes a acabar, e que o mundo vai desabar bem em cima dos meus ombros. Não sei é se tenho forças para carregá-lo. Quero mais é que o relógio pare, ou volte atrás. Tenho medo do próximo segundo, do próximo instante, do próximo momento em que o telemóvel que está ali em cima da mesa vibra com uma resposta, ou uma proposta. Mas, apesar de ter medo, preciso que esse momento chegue para saber se, afinal o mundo desaba ou não.
Eu só queria não ter de lhe pedir tantas vezes por um carinho, por um beijo, por um abraço, ou por atenção. Acho que não devo pedir. Acho que é ele que deve dar. Sem que eu lhe peça. Não?
Vou ao Porto para matar saudades e...
...venho de lá com uma amigdalite e 38.8 de febre, fico de cama durante dois dias sem ir às aulas e QUASE que falto a um teste. QUASE porque o teste é amanhã e eu já não estou com febre, que chatice!
Cada vez custa mais.
Cada vez é mais doloroso.
Cada vez fico mais deprimida.
Cada vez mais dura menos.
O que um fim-de-semana no Porto passado com o namorado faz a uma pessoa. Fim-de-semana... Noite de Sexta e dia de Sábado. Sim porque Domingo vim-me embora de manhã para poder almoçar em Aveiro. Não faltaram mimos é certo, mas assim que me meti no comboio pensei "Fodasse, vai voltar tudo ao mesmo...faculdade, faculdade, mundinho da faculdade,novelas da faculdade..." Não dá. Não deu para abstrair. Ou melhor deu, e por isso é que custou voltar. E por isso cada vez custa mais entrar no comboio e vê-lo ir-se embora. E cada vez custa mais vê-lo entrar no comboio e ficar na plataforma a ver o comboio arrancar para termos a certeza de que o sonho acabou.
"E agora? Quando é a próxima vez?"
Dezembro. Algures em Dezembro. E depois não me venham com merdas de que passam pouco tempo com o namorado. No inicio até se passava bem, éramos putos não custava tanto. Agora temos 19 e 20 anos. As perspectivas de vida são outras. E queremos estar juntos. E se tinha alguma dúvida, este fim-de-semana serviu para que elas deixassem de existir e para que eu possa ter uma, e apenas uma única certeza.
...datam-se duas coisas totalmente diferentes, totalmente opostas, totalmente em desacordo. Faz hoje uma semana que perdi um elemento que foi importante na minha vida. A morte do meu tio ainda me atormenta momento sim, momento não. É curiosa a forma como certas palavras que certas pessoas nos dizem teimam em ficar na memória anos e anos a fio e nunca se desvanecem. O sorriso dele a dizer aquelas palavras transforma-se em lágrimas nos meus olhos sempre que recordo a sua voz. Tenho saudades... E tenho saudades daquele lado da familia que sorria, que mandava piadas e bocas, que brincava. Tenho saudades dos 4 irmãos estarem juntos e gozarem uns com os outros. Tenho saudades de ver o meu pai falar connosco. Ele não fala, desde segunda-feira que se fecha no seu mundo. E que mais posso fazer eu senão respeitar a forma como ele sente a dor de ter perdido o irmão mais velho?
A outra coisa que data o dia de hoje, são os 2 anos e 10 meses de namoro com o Apêndice. É ridiculo, eu sei. Mas só há poucos minutos é que dei conta desta "estranha" coincidência. Não me levem a mal.
Ou vou comer um pratão de cerelac e inchar na cama a ver um filme deprimente e a chorar porque o Apêndice vai tomar cafés até às 4 da manhã e não me liga
OU
Vou buscar aquelas duas garrafinhas de vinho do porto que estão escondidas atrás dos livros e ignoro o desprezo do Apêndice e vejo o filme deprimente e quando estiver com uma grande bezana em cima caio para o lado
"Temos de resolver isto hoje"
Eu até resolvia se ele me pedisse desculpa por se ter armado em parvo e po rse ter chateado com...NADA, e se não tivesse de ficar 40 minutos à espera de resposta.
...
Estou farta.
"Tenho saudades..."
"Eu também juca..."
"Mas mesmo muitas..."
"Sim"
"Gostas de mim?"
"Tonta, gosto..."
"Muito?"
"Siiiim"
"Então diz, não me faças perguntar"
Risos
"Amo-te parva!"
"Tenho sonoooooo..."
"Vamos dormir?"
"Hum hum"
"Então deixa-me só ir vestir o pijama, venho já."
"Está bem."
"Não adormeças!"
"Não..."
Adormeci -.-'
Começou aquela fase crítica em que fazemos tudo para ficar em casa a marrar porque queremos passar a tudo e não deixar nada pendurado. Enquanto isto, as pessoas re-lembram-se de nos convidar para as mais variadíssimas coisas. Às vezes resisto e digo que "não". Outras, simplesmente não consigo. E depois fico com um melão em cima dos cornos porque a consciência pesa e penso "Devia ter ficado a estudar..."
Assunto que não tem nada a ver:
Enerva-me o bom tempo e os pombinhos que vêm com ele. Irrita-me os casais nos transportes que vão a comerem-se e a trocar olhares estúpidos. Irrita-me estar bom tempo e não ter o Apêndice comigo para passearmos de mãos dadas e fazermos figura de parvos.
"Gostava de passar a Páscoa cá..."
"Faltam 15 minutos, ainda vais a tempo..."
Decidiu. Entrou. A porta fechou. O comboio arrancou. E a menina chorou.
Vamos por já no contador invisível da minha cabecinha, pois a próxima vez será daqui a três semanas. E já prometi. E não posso voltar atrás.