Sinto-me um lixo, sim.
Sinto-me um nojo, sim.
A vida faz-nos destas, daquelas e de tantas outras que parece que nunca nos vamos conseguir livrar da merda que nos rodeia. Sinto-me incapaz de inverter papéis e agora ser eu quem te dá conforto, de ser quem diz que vai ficar tudo bem. Não estou nas minhas perfeitas faculdades, tenho um derrame qualquer, algures, que me provoca este perfeito estado de ataraxia e não me deixa viver no verdadeiro sentido. Para mim é tudo indiferente. Excepto quando falas dessa sombra que me acorrenta, que me faz sentir menos eu e menos tua. Essa sombra que me prende porque foi a tua tela, a tua primeira ideia de perfeição e eu não sei se tens uma segunda, ou se tiveste. Esse fantasma que me aterroriza, que me leva a minha essência feminina e que me deixa a vaguear nas ruas, à espera de alguém vulgar que me possua, porque eu não sou digna de ter alguém como tu como ela teve. Eu não sou eu quando ela vem, eu sou menos que tudo. E tu lutas para que ela vá, tu lutas, oh lutas tanto meu amor. E eu, eu apenas faço esforços para que ela volte sempre, não me perguntes porquê, também procuro resposta.
-Vou dormir.
-Já?
-Sim, estou cheia de sono.
-Entras no meu?
-No teu quê?
-No meu sono.
-Não queres vir tu para o meu?
-Não, vem tu para aqui.
-Está bem, deixa-me entrar então. Chega-te para lá.
-Já está?
-Sim.Deixa que me enrole a ti.
O mundo está errado e nós estamos certos.
O mundo está certo e nós estamos errados.
Não sei.
Só sei que nós e o mundo não nos damos.
Só sei que eu e tu somos o mundo.
E é tão bom que assim seja.
Hoje é só daqueles dias.
Daqueles dias em que suspiro pelos teus braços, daqueles dias em que a minha língua fica estagnada, húmida, à espera da tua. Hoje é daqueles dias em que os 300km que nos separam parecem uma eternidade. O meu corpo treme por não ter o teu a meu lado, os meus olhos não têm um sítio para se fixar, as minhas mãos estão inquietas porque tu costumas estar sempre a agarrá-las. Hoje é daqueles dias em que nada mais existe. O mundo é demasiado grande para nós, não faz sentido. A minha cama está vazia, os meus lençóis não cheiram a ti, as roupas não estão espalhadas pelo chão do quarto, as paredes não ouvem os nossos gemidos há tanto tempo...
Como te sentes sem mim?Eu sinto-me assim.