Desde ontem. Um silêncio arrepiante. Uma indiferença. Uma ignorância. Nestas alturas pergunto-me se estou aqui. Estarei aqui? Se estou, não parece que estou. Se estivesse não havia silêncio. Havia ternura e carinho. Não havia indiferença. O problema é que estou. E ele não vê. Está ocupado demais para ver. Está ocupado demais para se preocupar em ver. Às vezes penso que é um descuido. Penso isto quando por trás penso que é mesmo assim, que não há remédio. Será sempre assim. Estarei aqui e ele lá. A única diferença é que o silêncio a mim perturba-me e, quando lhe digo, parece sempre ficar perturbado.
Fiz-me entender?
" Silêncio!
Do silêncio faço um grito
O corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco...
Solidão!
Que nem mesmo essa é inteira...
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura "
Amália Rodrigues, Grito