Tinha a cabeça atolada de merda. Não dizia nada de jeito, não tinha vontade para coisa nenhuma, não tinha feito nada excepto uma tarde fatídica com ela no shopping (ui e eu adoro ir ao shopping). Cheguei a casa a arrastar-me, com a língua de fora, sem expressão no rosto, a voz não saía porque tinha um nó na garganta a impedir-lhe o caminho. Entrei na sala e ela disse "Vou sair, venho tarde." Palavras que soaram como o tilintar de sinos brilhantes, pequeninos na minha cabeça. Ela saiu.
Discuti contigo, não queria. Mas compreende. O meu cérebro anda a 300000 km por hora e eu não consigo abstrair-me de nada. Abri a torneira da banheira, água quente. Despejei quase meio frasco do gel de banho lá para dentro, esperei. Fui à cozinha buscar uma cerveja, passando pela sala e ligando a aparelhagem, pus jazz. Despi-me quando o nível da água me agradou. Entrei lá para dentro e não me lembro do resto. O tempo passou. Fechei os olhos e desfrutei do momento. Consegui ter o cérebro em branco durante alguns momentos, não muitos, mas bastou para me despir do mundo. Desejei que naquele pedaço de céu onde me encontrava, não tocasse telefone, não batessem à porta, e fogo, não aconteceu nada! Fiquei satisfeita, foi um momento meu.